sábado, 9 de outubro de 2010

O papel das sociedades secretas no advento na República

Hoje venho falar da República... Mas este discurso pretende-se despojado do carácter enaltecedor de que habitualmente se revestem os discursos sobre a implantação da República. Não venho, contudo, manifestar o que caracterizou a 1ª República: um regime de vale-tudo, de ameaças, de extorsões, de perseguições e ódios...
É conhecida a acção determinante das sociedades secretas, nomeadamente a Maçonaria e a Carbonária, na implantação da República mas é importante não confundir o papel que ambas tiveram. A Carbonária foi de facto uma sociedade secreta pois actuava no maior sigilo, sem dar sinais da sua existência para o exterior. A Maçonaria, cujos nomes dos dirigentes eram conhecidos e publicavam boletins e anuários, dificilmente podia ser considerada uma sociedade secreta. Remonta ao século XVIII, teve origem em Inglaterra e distinguia-se por ser uma espécie de ponto de encontro e de diálogo entre homens com ideias políticas e religiosas díspares. Já a Carbonária nasceu 100 anos depois em Nápoles, em plena Restauração. Congregou inicialmente, em Itália e França, descontentes com o rumo da Europa após o Congresso de Viena como sendo os liberais, antigos militares napoleónicos, burgueses, intelectuais e estudantes.
Em Portugal a Carbonária Portuguesa, republicana, surge em 1897 a partir da uma organização estudantil, a Maçonaria Académica. Paralelamente existiu outra organização, com a designação de Bonfim, conhecida como Liga Progresso e Liberdade que foi descoberta pela polícia, dissolvendo-se. Os seus membros, anarquistas intervencionistas ou republicanos avançados, fundaram outro núcleo que se intitulou de Carbonária Lusitana, conhecida também como Carbonária dos Anarquistas. Embora a Carbonária Lusitana fosse autónoma e constituida essencialmente por operários que não desprezavam a luta política, a colaboração com o Partido Republicano fez com que alguns dos seus membros se passassem para o campo republicano.
Em finais de 1907 fundiram-se as duas carbonárias. Há notícia da existência de outras organizações de cariz carbonário autónomas que actuavam em conjunto com outros grupos como a Coruja ou os Mineiros. Alguns membros da Carbonária Lusitana, como José do Vale, João Borges e Bartolomeu Constantino participaram no 5 de Outubro, sob a direcção da Carbonária Portuguesa.
Relativamente à Maçonaria, apesar de se tentar manter fora do cenário político num sentido partidário, a verdade é que a sua republicanização acabou por ser notória. A Maçonaria era uma organização que se definia como progressista, defendia o progresso da Humanidade e para muitos maçons em Portugal esse progresso era incompatível com a Monarquia. Assim se explica a necessidade de mudança. Durante a Primeira República cerca de metade dos ministros eram maçons, o mesmo sucedeu com três dos Presidentes da República: Bernardino Machado, Sidónio Pais e António José de Almeida.








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