terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

"No Entrudo, vale tudo"


Podemos atribuir várias interpretações à origem do Entrudo ou Carnaval. São duas palavras distintas a nível etimológico significando o mesmo período temporal, que vai desde o dia de Reis até à Quarta-Feira de Cinzas. Entrudo, deriva do latim (introitus) significando "entrada" ou começo do ano, da primavera ou, mesmo, da entrada da Quaresma. Outras etimologias são atribuídas à palavra carnaval: uma Italiana "Carnevale" isto é proibir a carne, em período de quaresma; uma outra origem celta ou germânica, ligada aos " Carrus Navalis" isto é, barcos com rodas, apresentação tão querida dos romanos que passeavam assim o seu "Carnaval".
Os festejos carnavalescos parecem ter origem remota e pagã. Segundo o antropólogo James Frazer o Carnaval tem origem nas Saturnais, festas romanas realizadas a 17 de Dezembro, em honra de Saturmo. Durante essas festas os escravos ocupavam o lugar dos senhores, satirizavam-nos, comportavam-se como Homens livres. Talvez seja esta a explicação para o Carnaval ser uma espécie de provocação à ordem instituída. Outros autores associam-no às Dionisíacas ou Bacanais, realizadas respectivamente na Grécia e em Roma em honra de Dionísio ou Baco, deuses do vinho. Estas festividades incluíam danças, cortejos musicais, encenações e toda uma série de manifestações de euforia.
Pensa-se, apesar de tudo, que inicialmente o Carnaval teria sido uma festividade ligada a rituais de fim de Inverno e início de Primavera. Todavia, o Carnaval, como hoje o conhecemos, está intrinsecamente ligado à herança cristã e da Quaresma, tendo a Igreja cristianizado práticas pagãs.
Entre nós, as primeiras referências ao Entrudo remontam a 1252, reinado de D. Afonso III. No reinado de D. Sebastião há muitos registos de brincadeiras que tinham lugar nesse período. Actualmente, mesmo com uma paleta repleta de cores, ritmos e... nudez, de importação brasileira, permanecem vivas, ainda, algumas tradições de Carnaval, onde a música, a dança, máscaras e folia imperam.
Seja como for o Entrudo ou Carnaval seria uma festa cujo significado e vivência estará sempre de acordo com a cultura de cada povo. Representando um subconsciente colectivo, não deixa de ser, também, uma festa de liberdade, onde tudo é permitido fazer-se, e onde preceitos e costumes se esquecem para permanecer durante três dias o quase "vale tudo".
A título de curiosidade remeto-vos para o quadro de Peter Bruegel intitulado "O Combate entre o Carnaval e a Quaresma". Obeso, o príncipe Carnaval representa os protestantes, o sujeito magro e triste, encafuado com um cortiço na cabeça, encarna os católicos (profano vs sagrado, abundância vs jejum). Bruegel caricatura tanto um como o outro. No centro do quadro, um arlequim guia de novo duas pessoas. Acendeu a sua tocha embora ainda seja de dia: símbolo de um mundo invertido.



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